CAPITAO DA PM-BA, REVOLTADO COM O IMIP-PETROLINA. ACUSA A ENTIDADE DE ERRO MEDICO, PARA A CAUSA DA MORTE DE SUA FILHA
O Capitão da PM-BA, após sua filha ter vindo a obito na Entidade Hospitalar IMIP-PETROLINA, expressou ao Blog Carlos Britto, questões de irregularidades em procedimentos dentro da entidade...
Vejam as suas palavras, logo abaixo:
Carta aberta ao IMIP – Petrolina
Escrever para mim sempre foi muito fácil, especialmente quando as redações de colégio eram sobre opiniões. Escrever essas linhas para as pessoas que trabalham no IMIP-Petrolina, mesmo já tendo se passado alguns dias da perda de minha filha, não é tão fácil. Intencionalmente, deixei que o tempo passasse para que o escrevesse tivesse a força da verdade, e não estivesse contaminado pelos sentimentos de frustração, essas linhas que seguem adiante vão falar de um erro grosseiro, de procedimentos padrão, profissionais e de pessoas. Escrevo porque os textos têm a força de mudar pensamentos e a mente das pessoas, de transformá-las em algo melhor e assim consecutivamente, mudar o mundo a sua volta, mas sejamos mais objetivos. Eu gostaria que as linhas que vêm a seguir mudassem a forma de vocês trabalharem. Eu já vi isso acontecer na área de segurança e por que não na área de saúde?
Vocês, IMIP-Petrolina, não podem executar seu trabalho como se as pessoas (pais e mães) não estivessem ali, como se elas não existissem. Não falo de “bom dia, boa tarde ou boa noite”, e refiro a impessoalidade das pessoas que fazem questão de não falar com ninguém, como se elas (pais e mães) fossem invisíveis.
Talvez em algum momento quando estiveram sentados nos bancos da faculdade ou cursos técnicos profissionalizantes, vocês tenham se perguntado por que as pessoas acreditam tanto nos profissionais de saúde, incluindo aí os Bombeiros Militares. Eu mesmo já servi no Corpo de Bombeiros da PM-BA e, fora as discussões vindas do quadro socioeconômico da população brasileira, nós acreditamos em vocês, não porque aprenderam a fazer seu trabalho de forma satisfatória e passaram nos testes que lhe foram impostos, como qualquer outro profissional. Nós acreditamos porque pensamos que vocês se importam e gostam do que fazem, que se importam com nossos entes queridos que ali estão, indefesos.
Minha filha, Isabella Victoria Martins Brito, nasceu com 825 g, um bebê prematuro, de alto risco como vocês chamam, e contrariando todas as expectativas sobre altos e baixos na condição física de seu pequeno corpo, ela só teve uma curva ascendente em sua saúde, até o dia da troca de curativo do acesso venoso que tinha em seu pescoço, que por algum motivo, um procedimento simples de limpeza, lhe fez voltar à sala do bloco cirúrgico, porque seu acesso não estava mais funcionando direito, estava infiltrando agora, e um novo acesso foi feito. Estávamos preocupados com o procedimento e pedimos atenção com a nossa filha. O pessoal do berçário foi atencioso, e quando chegamos ao hospital por volta das 08h00, Isabella já tinha ido ao Bloco Cirúrgico, então só nos restava aguardar na porta de saída o término do procedimento. Quando isso aconteceu, aí começou um quadro médico ruim que minha menina não conseguiu sair mais, pois minha filha foi trazida da sala de cirurgia até a entrada/saída do bloco cirúrgico, onde nós estávamos aguardando, sem suporte de oxigênio. No dia anterior ela só estava tomando 2% a 10% sem o halo, e nesse deslocamento que fora feito pelas enfermeiras do bloco cirúrgico até o berçário, Isabella, minha pequena descendente, ficou toda cianótica, parecia um bebê azul, talvez tenha parado de respirar pois foi usado o ambu nela, um erro grotesco da enfermagem do centro cirúrgico, ter por algum momento pensado que o deslocamento é pequeno e nada de ruim vai acontecer.
Isso, Sr. Médico Diretor do IMIP-Petrolina, nas melhores hipóteses que eu possa pensar, depois desse acontecimento irresponsável, minha filha passou a manhã no berçário, até que a médica plantonista resolveu passá-la à UTI, onde de lá ela não saiu com vida. Nesse dia Isabella pesava 1,180 Kg. Dentre todos os ” SES” que se seguiram, enquanto ela estava na UTI, alguns fatos não podem se repetir com outros bebês. O que aconteceu com o meu, se eu estiver correto, pois na hora que aconteceu comigo, eu não percebi, é muito difícil as palavras chegarem ao intelecto, as emoções bloqueiam, mas no dia que ela morreu, na minha mente, surgiram dois fatos com uma nova interpretação do dia em que aconteceram e que acredito que foram, claramente, erros de avaliação. O dia em que eu e minha esposa conversamos com a médica plantonista da UTI sobre os antibióticos que estavam sendo ministrados a ela, pois não estavam fazendo efeito. A médica me respondeu que estava esperando um medicamento da quarta geração de antibióticos fazer efeito, pois só estavam ministrando há quatro dias e que estava guardando o antibiótico mais potente que poderia dar a ela para uma última cartada.
Um erro de julgamento na avaliação de minha filha. Os prematuros não podem esperar, minha filha nesse momento estava com suporte ventilatório tipo VNI a 55% de O2, quando se está passando por algo como eu passei parece que não se sabe de mais nada na vida, eu aceitei aquilo como se fosse o certo, dois dias antes de minha menina ser entubada ela passou o dia lutando para respirar, fazia paradas respiratórias e voltava espontaneamente, passou o dia e a noite assim, um gasto de energia desnecessário, e mais uma vez a explicação da médica plantonista não me convence como procedimento correto, vai de encontro às informações médicas que bebês prematuros não devem gastar energia, não têm tempo para esperar a utilização de medicamentos mais potentes, e ainda me disseram na UTI que minha filha tinha nascido com um problema cardíaco congênito, o que curiosamente não foi diagnosticado nos quase trinta dias que ela ficou no berçário ou nos dois primeiros dias de UTI.
Enfim, minha menina teve uma parada total, foi reanimada, voltou, mas não resistiu por muito tempo, uma grande perda para mim, vocês não sabem a tristeza que representa. Mas IMIP-Petrolina, vocês também perderam, pra vocês minha menininha é apenas uma estatística ruim, até no seu leito de morte ela ainda era a RN de S.R.B.M. , passamos aí um mês e seis dias, parece bobagem, sentimentalismo, o que escrevo agora, uma simples identificação não é nada desumano, não é verdade? Poderia até concordar se não presenciasse que a enfermagem retirou sangue de um bebê, quando deveria ter retirado de outro. Graças ao bom DEUS, o grande arquiteto do universo, o erro foi percebido, não se gastou fazendo exame no sangue errado, que economia! Talvez um nome não seja muito importante mesmo para vocês.
IMIP-Petrolina vocês não perderam também só porque tiveram uma estatística ruim, isso na verdade, é irrelevante, as pessoas morrem e nascem todos os dias, é assim a natureza, e quando se vai morrer não se importa o que se faça corretamente. A Dona morte chegará na hora marcada, mas minha filha tinha uma chance que lhe foi tirada por um erro grosseiro da enfermagem do bloco cirúrgico, mas vocês perderam juntamente comigo porque nós (eu e minha esposa) temos dois filhos, todos os dois prematuros também, Gabriel e Rafael, um de seis meses também e o outro de oito, todos os dois ficaram internados em clínicas particulares em média 12 dias, não fiquei pobre e nem perdi a minha capacidade financeira de sustentar minha família Graças ao bom Deus, o grande arquiteto do universo, minha filha nasceu aí com vocês porque um médico, com quem eu perdi a fé, e acompanhava minha esposa no pré-natal, me disse que ela não tinha condições de ter o bebê na capital, a bolsa iria romper e ela realmente rompeu, e a minha filha veio ao mundo na sala de parto, com a assistência de uma enfermeira que fez o que podia e não podia, me sinto grato, mesmo sem saber seu nome. Mas IMIP-Petrolina, você era a minha única opção, a primeira vez que recorri ao poder público na área de saúde foi uma tragédia, mas poderia ter sido diferente.
IMIP-Petrolina, vocês com certeza já imaginaram o que diferencia os procedimentos médicos entre o poder público e o privado? Não é à toa que vocês têm plano de saúde; mas NADA, nenhum procedimento padrão é diferente, nenhum, e vocês sabem disso, o diferencial são as pessoas, que nem melhores e nem piores, apenas mais disciplinadas, nas clínicas privadas, que sabem que devem cumprir rigorosamente o que está escrito nas normas para evitar infecção e acidentes de trabalho. Vocês perderam nisso também, IMIP-Petrolina, uma criança teve pneumonia lá no berçário e dois dias depois a minha Isabella também contraiu. Sabe? Você vê enfermeiras colocarem a sonda sem usarem luvas e estarem tremendo na sua frente, como se ali fosse a primeira vez, o que com certeza não era. E como soube que não era o procedimento correto? As outras duas vezes que presenciei os enfermeiros estavam de luvas, vi enfermeiras limparem a cera do ouvido com o bocal da caneta, dentro da UTI, ter de lembrar a algumas, poucas vezes é verdade, que lavassem as mãos antes de tocarem minha filha, vocês também perderam nisso, IMIP-Petrolina. Para quem quer ser referência em NEONATAL, como o livro que se estuda na faculdade, hoje que tem o seu nome como referência, vocês também perderam porque os médicos e enfermeiros querem ser psicólogos. Mesmo tendo boa intenção, isso não lhes cabe, tratamento humanizado não é isso, isso não tem nada relacionado com conhecimentos médicos ou de enfermagem, nada a ver com isso, isso tem a ver com cuidar uns dos outros na forma de que quem está sendo cuidado compreenda. Até mesmo porque, meus caros médicos e enfermeiros, a tristeza é uma emoção muito forte que nos impede de usar a nossa vontade na sua plenitude, nos fazendo frágeis em todas as concepções que vocês possam imaginar.
Vocês também perderam, IMIP-Petrolina, na escolha do perfil psicológico de uma enfermeira chefe do berçário, mas falar dela, aqui, poderia ser puro revanchismo, pensei em citá-la ou não, várias vezes na minha mente e a resposta, se era certo ou errado, veio nas palavras de outra mãe que tem um bebê internado aí, nas mesmas condições de minha eterna Isabella, a quem convidamos (eu e minha esposa) para almoçar conosco em duas oportunidades. Ela me disse que essa funcionária era “o cão em pessoa”, não só com ela, mas com outras mães; o cão é um termo pesado, você não acha? Bem Sr. Diretor, imagine que se tal “ser humano” faz isso comigo, que sou oficial da PM-BA, respeitador das regras, pelo simples motivo de exigir respeito também, imagine o que faz com as pessoas que não sabem conversar com facilidade.
Eu, Sr. Diretor, sou a pessoa que precisou colocar na justiça um pedido de prontuário, que é um direito meu e de qualquer pessoa nesse país, para uma avaliação por médicos de minha confiança, o Sr. lembra? Você negou, mas o pior de sua negativa não foi ter meu pedido indeferido pelas vias administrativas, o pior foi após voltar para saber a resposta, depois de entregar o documento, foi saber que o Sr. Diretor é ocupado demais para receber os seus clientes. Sim, Sr. Diretor, nós somos os seus clientes, enquanto nossos filhos e filhas aí ficarem internados, nem essa decência você teve, de simplesmente me atender e explicar as suas razões em não atender o pleito naquela hora solicitado. Isso não é atendimento humanizado.
Acima, caros senhores e senhoras do IMIP -Petrolina, não cito nomes porque não estou responsabilizando ninguém pela passagem de minha pequena filha, isso talvez até fosse impossível; SEI QUE ELA ESTÁ NUM LUGAR MELHOR, só desejo que sejam revistos protocolos, regras ou seja lá o nome que vocês queiram dar aos procedimentos que aí realizam. Eu não tenho uma foto decente de minha filha, porque no berçário não se pode tirar fotos, não tentem nem sonhar em dizer que isso é uma norma sanitária contra infecção, pois vocês sabem que poderia ser possível e eu também. Não tenho uma foto de minha filha sorrindo; minha filha foi diagnosticada – morte cerebral – e a médica, “um poço de sabedoria” , disse” venham ver, venham, aguarde um aqui, para não quebrar as normas da UTI” (ela se referia ao espaço delimitado pela fita vermelha no chão, já dentro da UTI, apenas um metro ou dois do leito 01 onde minha filha estava) e eu não pude segurar as mãos de minha esposa, quando ela viu nossa pequena pela ultima vez, viva, isso é sem comentários.
Senhores do IMIP-Petrolina, nessas horas nós somos muito parecidos com o gado, somos conduzidos por quem quer que seja, como se aquilo fosse o correto; eu queria que vocês tivessem vergonha, como eu tenho de alguns colegas meus, mas não é a vergonha de ter feito algo errado, é a vergonha que nos aflige quando estamos sós, porque sabemos no nosso íntimo, que poderíamos fazer melhor do que fizemos ou, que é o caso aqui, poderíamos não ter causado dor, desconforto ou desavenças com os nossos semelhantes sem nenhum motivo. Nisso IMIP-Petrolina, vocês também perderam.
Entendo perfeitamente o regime de plantonistas no berçário e na UTI, o que peço é que em ambos os setores haja continuidade de pensamento. Para lhe ser mais claro IMIP-Petrolina, sei que existe uma variedade enorme de procedimentos que seguem uma linha lógica e que podem ser adotados no tratamento dos pequeninos bebês que aí estão, e cada plantonista tem sua linha de pensamento. O que inclusive é normal em qualquer profissão, são pessoas, sem que isso não seja certo e nem errado, mas Sr. Diretor, há de pensar em algo a ser feito para que os médicos plantonistas não tenham várias linhas de pensamento sobre o tratamento a um bebê. Minha filha era acompanhada por um único médico no berçário de segunda a sexta e nos finais de semana, plantonistas, a linha de pensamento divergia da utilizada anteriormente, isso não causou nenhum mal, simplesmente não teve avanços. Mas na UTI, as linhas de pensamentos divergentes da utilizada anteriormente talvez tenham levado a vida de meu bebê.
Sr. Diretor, o necrotério não é lugar de insetos. Não vou lhe narrar o que aconteceu, porque sinto vergonha e porque não contei a mãe de minha filha nada sobre isso, não contei a ninguém, mas lhe digo, ali não é local de insetos.
IMIP-Petrolina, não poderia deixar de citar os nomes de pessoas que têm a minha admiração e a de outros clientes seus (pais e mães): os médicos Drº Rocini e Drª Lílian, os enfermeiros-chefes Max, Renata e Luciana, as técnicas em enfermagem Ju, Elizângela, Cida, Bela e uma enfermeira chefe da UTI que fica durante o dia. Essas pessoas fazem o seu trabalho e enxergam a dor que salta aos olhos das pessoas que têm seus filhos classificados como alto risco. A Sr.ª Margarete , da ouvidoria, meu muito obrigado pela atenção dispensada, no dia que minha filha nasceu. Isso que essas pessoas fazem, enquanto realizam seu trabalho, é o que significa ser humano, cuidar do próximo. É isso que seria realizar um atendimento humanizado, como vocês tanto pregam. IMIP-Petrolina, por favor, enxerguem as pessoas, se esse texto mudar pelo menos o modo de trabalhar de 10% dos médicos e enfermeiros daí, minha filha, talvez não tenha morrido em vão.
Agnaldo Reis Brito/Pai da eterna Isabella
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