Até pouco tempo atrás o mercado de câmbio no Brasil daria uma vaca para não entrar na briga com o BC, mas agora parece disposto a entregar um rebanho para não sair. Em mais um movimento de alta forte em reação à piora da crise na Europa, a moeda americana subia cerca de 2% nesta segunda-feira quando o BC anunciou mais um leilão de venda de dólares no mercado futuro. O BC ofereceu mais de US$ 5 bilhões, mas não adiantou. O dólar resiste e insiste em subir mais um pouco.
O movimento deste início de semana está fortemente ligado ao nervosismo dos mercados internacionais. Mas, diferentemente do que vivemos em 2008, o BC de 2011 tem um arsenal mais robusto para enfrentar um descontrole maior no mercado de câmbio. Há três anos, com a crise financeira internacional, nossas reservas cambiais estavam na casa dos US$ 200 bilhões. Agora estão acima de US$ 350 bilhões. O BC ainda não começou a usar esse dinheiro para conter a desvalorização do real, mas pode começar a fazê-lo quando decidir que é preciso mais força para vencer a briga com mercado, já disseram o ministro da Fazenda Guido Mantega e o presidente do BC, Alexandre Tombini.
Enquanto isso, a moeda brasileira tem sofrido mais intensamente a recuperação do dólar frente a outras moedas no mundo todo. Um relatório do banco americano JP Morgan enviado a clientes, destaca o Brasil, entre os mercados emergentes, como um dos países que mais recebeu investimentos estrangeiros em renda fixa e em moeda local. Se recebemos tanto dinheiro assim, na hora da corrida contra o risco, o volume de saída também é intenso.
“Não estamos nem na metade desse movimento. Nós recebemos um caminhão de dinheiro via operações de mercados de capitais, de renda fixa e de moedas. Por isso, o potencial de saída desses recursos é muito grande. No movimento favorável do ciclo de investimentos fomos beneficiados. Mas somos também o que mais sofre com a saída dos investidores. Dentro do possível, sem fazer movimentos muito bruscos, o BC pode suavizar o efeito sobre o câmbio usando as reservas internacionais”, avalia o economista Marcelo Fonseca, do fundo de investimentos MSafra.
Segundo dados do relatório do JP Morgan, a moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou em setembro, em comparação com outros países recordistas em investimentos estrangeiros. Enquanto o real perdeu cerca de 17% em setembro, as moedas do México, Colômbia e África do Sul se desvalorizaram entre 12% e 5%.
A alta do dólar tem um efeito colateral negativo sobre a inflação, elevando preços de produtos importados, não só para o consumo direto, mas dos insumos utilizados pela indústria brasileira. “O BC afirma que o repasse dos movimentos do câmbio no Brasil para a inflação é muito baixo (cerca de 5%). De fato é, a cesta de produtos que compõem o IPCA é mais independetne de produtos expostos ao câmbio”, afirma Marcelo Fonseca.
No outra briga que trava com mercado, a do controle da inflação, o Banco Central começa a perceber que o outro lado pode ter começado a guardar o rebanho das vacas de volta no estábulo. As operações feitas desde a última semana deixaram de refletir um julgamento sobre se Alexandre Tombini estava certo ou errado em baixar juros tão cedo para evitar uma parada brusca da economia brasileira, colocando em risco a redução da inflação do patamar atual, considerada alta e de risco para o cumprimento da meta.
“Quem olhou demais a inflação, deixou passar uma jamanta. O que está em foco agora são os riscos do cenário internacional. O que ganhou espaço na tomada de decisão do BC foram os efeitos da crise sobre a nossa atividade econômica. O risco disso é ter que lidar com uma inflação mais alta lá na frente. E não dá para dizer agora se isso vai ou não dar certo, nós não conhecemos a extensão dessa crise. O mercado agora está sendo pragmático e colocando no preço o que está acontecendo hoje na prática”, diz o economista Marcelo Fonseca, do fundo de investimentos MSafra.
“O que podemos perguntar é se vale a pena tomar esse risco ou não. O risco está no campo das preferências dos gestores da política monetária. Até agora, eles deixaram claro que a escolha deles é minimizar o impacto sobre o crescimento da economia. Particularmente eu acredito que poderíamos ter aguardado um pouco mais para ver como o quadro lá fora iria evoluir, seria uma opção mais prudente. Mesmo assim, não existe antídoto com alívio imediato e será preciso agir com firmeza se a coisa piorar muito”, conclui Fonseca da MSafra.
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