Cardeais católicos se apresentaram na segunda-feira no
Vaticano para as reuniões preliminares que buscam definir o perfil ideal do
novo papa para liderar a Igreja num momento de crise.
Eles chegaram em carros particulares, táxis e
micro-ônibus, no primeiro dia das chamadas congregações gerais, reuniões a
portas fechadas em que muitos cardeais terão a oportunidade de se conhecer pessoalmente.
Nessas reuniões será marcada a data de início do conclave
-- reunião, também secreta, em que cardeais com até 80 anos escolherão um novo
papa para substituir Bento 16, que renunciou em fevereiro.
Aparentemente, a intenção do Vaticano é concluir a
eleição já na semana que vem, para que o novo papa possa tomar posse antes do
Domingo de Ramos, em 24 de março, comandando assim as celebrações da Semana
Santa e Páscoa.
As discussões das congregações gerais deverão ser
dominadas por questões delicadas, como a crise decorrente dos abusos sexuais
cometidos por clérigos e o escândalo do "Vatileaks", do ano passado,
quando vieram à tona casos de corrupção e rivalidades internas na Cúria Romana (a
burocracia vaticana).
"Precisamos de um homem de governança, e com isso
quero dizer um homem que seja capaz (...) de governar a Igreja", disse o
cardeal Cormac Murphy-O'Connor, arcebispo emérito de Westminster (Londres), à
rádio BBC.
O novo pontífice, acrescentou, precisará ser alguém capaz
de "enfrentar fortemente" as crises na Igreja.
Cerca de 150 cardeais devem participar de uma ou duas
reuniões por dia. O Vaticano parece interessado em limitar as discussões
preliminares a uma só semana, de modo que os 115 cardeais eleitores possam
entrar na semana que vem no conclave da Capela Sistina. A data exata ainda não
foi definida.
"Temos reuniões nesta semana toda para nos
conhecermos melhor e considerarmos as situações que enfrentamos", disse o
cardeal André Vingt-Trois, de Paris, ao entrar.
Durante as congregações gerais, os cardeais provavelmente
receberão informações sobre um relatório preparado por três colegas seus para
Bento 16 a respeito dos problemas envolvidos no "Vatileaks".
Outro tema que ronda as discussões são os abusos sexuais
cometidos por clérigos contra menores, e aparentes esforços de bispos e
arcebispos para acobertar esses crimes. Na semana passada, o cardeal Keith
O'Brien renunciou ao cargo de arcebispo de Edimburgo e decidiu não participar
do conclave, por ser acusado de ter se comportado inadequadamente com padres e
seminaristas no passado.
As reuniões preliminares representam também uma chance
para que os cardeais avaliem potenciais candidatos, observando-os nos debates e
consultando discretamente outros cardeais sobre suas qualificações e eventuais
senões.
Os cardeais jamais revelam publicamente suas
preferências, mas dão dicas veladas, ao citarem o perfil ideal do novo
pontífice. A característica mais citada até agora tem sido a capacidade de
comunicar a fé católica de maneira convincente.
A maioria dos cardeais diz que o novo papa pode ser de
fora da Europa, mas não está claro se o conclave, com uma ligeira maioria de cardeais
europeus, romperá a tradição de eleger apenas pontífices do Velho Mundo.
Não existe um favorito óbvio, mas os principais
candidatos incluem Peter Turkson (Gana), Leonardo Sandri (Argentina), Christoph
Schoenborn (Áustria), Odilo Scherer (Brasil), Marc Ouellet (Canadá) e Angelo
Scola (Itália).
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