Após
cerca de oito horas de discussão em plenário e várias tentativas de obstrução
da oposição, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (17) projeto que
dificulta a criação de novos partidos políticos. A medida atinge
diretamente a sigla Rede Sustentabilidade, fundada pela ex-ministra do Meio
Ambiente Marina Silva, que busca legalização na Justiça Eleitoral para disputar
as eleições de 2014.
O
projeto, de autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), impede a transferência
do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e dos recursos do
Fundo Partidário relativos aos deputados que mudam de partido durante a
legislatura.
A
maioria dos partidos da base governista votou pela aprovação do projeto --o PSB
não seguiu o governo na votação. Entre os oposicionistas, apenas o DEM votou a
favor da proposta. No total, 240 deputados votaram a favor da aprovação e 30
contra. A maioria dos parlamentares da oposição estavam em obstrução no momento
da votação.
O projeto
aprovado fecha a brecha aberta pelo PSD, partido fundado pelo ex-prefeito de
São Paulo Gilberto Kassab, que conquistou na Justiça Eleitoral acesso ao fundo
partidário e ao tempo de propaganda política no rádio e na TV mesmo sem ter
disputado uma eleição.
"O
governo se aproveita de um casuísmo [a legalização da Rede] para aprovar esse
projeto", disse o deputado Alfredo Sirkis, do PV, que já anunciou que irá
migrar para a Rede. "Um casuísmo destinado a boicotar a possibilidade
de Marina Silva e seus companheiros de criar um partido", lamentou o
parlamentar.
O
deputado petista José Guimarães (CE) negou que o partido votou a favor da
proposta por temer a concorrência de Marina Silva e outros candidatos de novos
partidos no pleito de 2014.
"O
PT não tem preocupação de perder um ou outro deputado para o PPS com a fusão
que houve ou para a Rede. Não estamos tomando atitudes para impedir a livre
organização partidária. Mas não é justo querer fundar partido de ocasião e
tirar tempo do PT, PSDB, PSB. Nós temos um legado nesse país, não é um legado
que se apaga em qualquer votação. Queremos fortalecer a ideia de programa e de
partido."
Ivan
Valente, do PSOL, afirmou que a base governista adotou comportamento diverso
quando defendeu que o PSD, criado em 2011, tivesse acesso ao fundo partidário e
a tempo de televisão. "O PSD migrou para o governo e agora o PT, o PMDB e
outros aliados --e o DEM-- querem restringir a liberdade partidária, impedir
que outros partidos tenham o mesmo direito consagrado na Constituição",
afirmou.
"Cremos
absolutamente na liberdade de ser candidato. Casuísmo é criar um partido para
se candidatar. O importante é construir dentro do próprio partido sua
candidatura. Tirar parlamentares de outros partidos para receber fundo
partidário e tempo de televisão, está equivocado", disse o deputado André
Figueiredo (PDT-CE).
De acordo
com as leis atuais que regulam os partidos políticos, as verbas do Fundo
Partidário são distribuídas desta forma: 5% para todos os partidos com registro
no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e 95% para os partidos com representação
na Câmara, na proporção de seus votos.
Em
janeiro de 2013, os 30 partidos registrados receberam R$ 16 milhões. A maior
parcela foi do PT, que tem a maior bancada da Câmara.
Marina,
Paulinho e novo PPS
A
proposta tem causado polêmica por criar obstáculos à criação de novas
agremiações.
Marina
Silva foi ontem à Câmara para tentar frear a votação da urgência, mas obteve
uma resposta negativa do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
A
ex-ministra disse, no entanto, que a aprovação do texto não vai impedir a
criação da Rede e que ela vai tentar convencer os senadores a rejeitar a
proposta.
Com o
requerimento de urgência aprovado ontem, o projeto será analisado diretamente
no plenário, sem passar pela análise das comissões da Casa.
O projeto
também pode comprometer a fusão entre PPS e PMN, que foi homologada hoje,
e o novo partido que deve ser criado pelo sindicalista Paulinho da Força,
atualmente no PDT.
O PPS e o
PMN oficializaram nesta quarta-feira sua fusão. O novo partido se chamará será
MD (Mobilização Democrática) e o número será 33.
Emendas
Na mesma
sessão, o plenário aprovou uma emenda do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) à
proposta que muda a forma de distribuição do tempo de propaganda eleitoral.
A emenda
reduz o tempo a ser distribuído igualitariamente entre os partidos e recompõe
em parte o tempo dos partidos que perderam deputados desde a última
legislatura.
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