A
juíza federal Taís Schilling Ferraz, presidenta da Comissão da Infância e
Juventude do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), avalia que a
situação em unidades de internação reforça a necessidade de mais investimentos
no sistema de ressocialização de crianças e adolescentes em conflito com a lei.
Promotores da Justiça da Infância e Juventude inspecionaram 287 unidades de
internação provisória ou definitiva em março de 2012 e março deste ano.
Coordenadora
do relatório Um Olhar mais Atento às Unidades de Internação e
Semiliberdade para Adolescentes, lançado hoje (8) pelo CNMP,
ela destacou que nas poucas unidades em que as normas que regem o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) foram implementadas de fato, a ressocialização dos jovens
infratores é possível.
“A
verdade é que um grande número de unidades de todo o país ainda não atende às
especificações do sistema socioeducativo, do Estatuto da Criança e do
Adolescente. É isso que, de fato, dificulta a ressocialização. Naquelas em que
esses parâmetros são observados, há condições de profissionalização, de estudo.
E os índices de reincidência caem muito”, ressaltou a juíza logo após a
divulgação do relatório.
Para
Taís, a constatação de que a maioria das unidades de internação provisória ou
definitiva está superlotada e não dispõe de salas de aula adequadas, espaços
para profissionalização ou equipamentos para a prática esportiva demonstra que,
antes de propor a redução da maioridade penal como solução para o problema da
violência juvenil, a sociedade deve cobrar investimentos que garantam a
efetividade do sistema socioeducativo.
“Os
adolescentes que praticam um ato infracional e vão para essas unidades de
internação [com problemas estruturais apontados no relatório] não estão tendo a
oportunidade da socioeducação. Não estamos conseguindo dar uma resposta
adequada, mas a solução nunca será a redução da maioridade penal, colocar esses
meninos em um presídio. A solução é dar a eles condições de voltar à sociedade.
E, para isso, o Estado precisa investir nessas unidades a fim de garantir [aos
jovens] educação, profissionalização e cultura”, acrescentou a juíza.
A
juíza citou um dado fornecido pelo Ministério Público do Distrito Federal,
cujos promotores identificaram que 29% dos adolescentes envolvidos em atos
infracionais disseram não ter sonhos ou expectativas.
“Isso
é muito grave. As crianças não têm perspectiva de futuro. Precisamos trabalhar
não para encarcerá-los, para levá-los para presídios e colocá-los à disposição
do crime organizado. Precisamos de investimentos nas unidades de internação,
[sem os quais] fica muito difícil o projeto de socioeducação [e
ressocialização]”, reforçou a juíza.
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