Três presídios da Paraíba criaram celas
especiais para atender detentos homossexuais e travestis. As celas foram
implantadas oficialmente após denúncias de homofobia e abuso sexual contra
eles, que receberam a permissão também para usar roupas femininas. Antes, esses
presos viviam em celas comuns e, segundo as denúncias feitas pelo Movimento do
Espírito Lilás (MEL) e pela Pastoral Carcerária, alguns eram forçados a fazer
sexo com outros detentos.
Com a medida, o estado entra na lista dos
estados que possuem alas exclusivas para este público. A medida já foi adotada
na Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em Minas Gerais; no
Presídio Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; e no Centro de
Ressocialização de Cuiabá, no Mato Grosso.
As celas LGBTS já são realidade nos presídios do
Roger e Complexo PB1 e PB2, na capital paraibana, e no Serrotão, em Campina
Grande. De acordo com o secretário de Administração Penitenciária da Paraíba,
Wallber Virgolino, a ideia é expandir a medida para todas as unidades
prisionais da Paraíba. “Sabemos que existe a discriminação na sociedade e nos
presídios não seria diferente. O objetivo é respeitar o direito LGBT e
humanizar o sistema”, explica.
Direitos respeitados
Os esmaltes separados por cores e os corações
desenhados na parede mostram que elas são organizadas e têm um certo
romantismo. Luana Lucrécia, Dany, Jojó, Samantha, Maga, Bruna e Suzy, são
travestis assumidos e dividem, há cerca de dois meses, o pavilhão batizado de
LGBT, na Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega (Presídio do Róger),
em João Pessoa.
Luana Lucrécia, que no registro civil é Augusto
Gomes da Silva, 30, tem postura de líder e é a primeira a puxar conversa. Ela
conta que antes de ir para a cela LGBT sofria preconceito e foi obrigada a
raspar os cabelos, que estavam na altura do ombro. Ficava triste quando algum
detento ou até mesmo um agente penitenciário a chamava de Augusto. “Era para
humilhar”, lembra.
Lucrécia chegou ao Róger no início deste ano,
por assalto. Foi condenada a quatro anos no regime semiaberto, mas cumpre a
pena em regime fechado. O pavilhão, antes sem graça, ganhou cortinas, cores e
detalhes. Cada um agora tem seu espaço. Lucrécia logo tratou de personalizar o
seu. Colou figuras na parede, arrumou os cosméticos na prateleira (que sempre
vive arrumada) e improvisou um local para organizar as poucas roupas que possui
dentro da prisão. A Bíblia ganhou lugar especial. “É o que tenho de mais
importante aqui”, declara.
Ao lado está o 'quarto' de Danilo Correia, que
há alguns anos decidiu que queria ser Danielle. Nas paredes, além dos corações,
uma inscrição se destaca: 'Dany gata'. Foi ele mesmo quem escreveu, com batom.
“Sou linda, tenho que me valorizar”, afirma. Danielle diz que não há nada para
reclamar. “Hoje está ótimo. Infelizmente preconceito ainda existe e acho que
isso nunca vai acabar, mas estamos bem”, declara. Se comparado aos demais
pavilhões do presídio, não é exagero dizer que o espaço LGBT é um luxo dentro
do Róger.
Abandonadas pelos companheiros
No momento nenhum dos travestis recebe visita
íntima. Não que haja proibição por parte da Secretaria de Administração
Penitenciária, mas por questões burocráticas ou abandono. Bruna, que nasceu
Cláudio Cirilo Gomes, por exemplo, diz que tem um namorado, mas que desde que
chegou ao Róger, nunca recebeu a visita do amado. “Quando a gente entra no
presídio parece que o sentimento deles acaba”, lamenta Bruna.
A vida afetiva e sexual desses travestis, por
sinal, parece ser o que mais incomoda. Alguns deixam escapar que estão
apaixonados, ou melhor, apaixonadas. E é sobre isso que gostam de conversar.
Mas não só isso. “A gente fala de cabelo, de roupas, de amores... de muitas
coisas”, revela Samantha, que responde civilmente pelo nome de Lenílson
Basílio. A saudade de quem está do lado de fora das grades fica estampada nas
paredes do pavilhão e arranca lágrimas.
Para Tiago Ângelo, que adotou o nome social de
Suzy, a implantação da cela LGBT ameniza o sofrimento de quem está privado da
liberdade. “A vida no presídio não é fácil. Ainda bem que tivemos nossos
direitos reconhecidos”, opina. (As informações são do portal de noticias G1)
Portal X9 Notícias
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